Quem és
tu?
Que me
prende na noite branca
E me
abraça com o luar nos ombros
E num
silêncio total e gasto
Me solta o
peso de todas as palavras que arrasto.
E de todos
os voos que nos meus braços aprisiono
Quem és
tu?
Pergunto
no silêncio que me desperta
O sangue
ainda quente no vazio inerte do meu leito
Sangue que
invade e vaza a timidez de todos os meus rios
Onde
solitária e breve me delicio
Numa
serenidade que vocifera a minha alma silente.
Quem és
tu?
Que na
noite longa e exaltada me devolve a luz
Em atalhos
de estrelas bordadas que me queimam como brasas
Me devoram
e cospem sem dó.
Ainda hoje
permaneço na dolorosa espera
Que um dia
me devolvas todos os beijos
Que deixei
nos teus lábios e faltam na minha boca.
Quem és
tu?
Que um dia
me disse
Que todas
as vidas têm caminhos semelhantes
Sentou o
tempo no seu colo
Adormeceu
as tempestades sem rumo
E acordou
as tardes vagarosas no brilho dos seus olhos.
Quem és
tu?
Que das
estradas fez tapetes em delírio
Colheu
flores em muralhas de gente
Na minha
boca escreveu o seu nome
E no meu
corpo depositou a semente
Que faz
nascer poemas órfãos de frio.
Quem és
tu?
Que me
apontou o vulcão quieto e manso
Que
enfrentámos com olhares de espanto
Me fez
acreditar com voz firme
Que todos
os rios têm fome
E que
todas as pedras sabem cantar.
Quem és
tu?
Que me
talhou tão imperfeita
Que de
tudo fiz uma verdade
Julguei
ser uma deusa no teu colo, vesti-me nua, com sedas de outros mundos
Fiz amor
nas estrelas e habitei deleites profundos
Mas também
que importa se a perfeição não conhece todas as portas
E as
ilusões são de quem as conduz.
Quem és
tu?
Que neste
altar vivo onde te pouso
Choram mil
chagas em mim do tanto que me espantas e espancas
Como um
vil escravo monstruoso.
E num
profano sorvo experimento-me sem me mentir
Como um
santo, um pregador e um pecaminoso!
Oh meu
Deus, quem me dera ser outra naquela que sou
Amar-te
seria o verso mais vivo que alguém já gerou.
Quem és
tu?
Quem sou eu?
Quem foi que me fez crer
Que escrever
é tocar em multidões de poetas
Em pedras quietas e em céus a arder.
Excelente, rendido às tuas palavras.
ResponderEliminarBeijo, querida amiga Mel.