segunda-feira, 8 de junho de 2015

Apeteces-me

 Sim, apeteces-me
como se fosses carne e osso
e se não te vejo
oiço-te.
Ah como amo amar-te
neste desejo em esboço.
Como amei provar-te
quando eras transparente
agora que não te vejo, nem oiço...
Sei que não te amo mais
e que tudo não passou de um sonho pertinente.
Mas apeteces-me indiferentemente
Talvez eu em ti me quisesse saber quem sou.
Aprovado está o desejo
que nos consome, e de nós some, depois de consumado.
Apeteces-me...
Oh palavras...Que tão bem sabem, quando me falam e as escrevo!
Palavra, apeteces-me!

Dei-te colo e choras-me


***
Gosto de improvisar
no que escrevo
gosto de caprichar
naquilo que não vejo

**
sou como a espuma
que depressa se esvai
no areal de sol e bruma
que a meus pés me cai
**
e se um dia eu for onda
abraça-me amor, não hesites
estou disfarçada de mar
pra que outro não me cobice
**
o meu caminho é incólume
segue-te, sem escolher se há lume
nos passos que dou parada
em direcção ao amor, ou ao nada
**
se me encontrares por ai
olha-me amor e sorri
eu ficarei a saber, então
que estou perto de ti
**
se os poetas não fossem loucos
quem de louco o seria
antes poetas e poucos
do que loucos sem poesia.
**
O meu mundo não tem tamanho
faço dele um gigante a cantar
e depois de o agigantar tanto
fujo para dentro de mim a chorar
**
Poetas, poetas escrevam sempre
porque sem a poesia sois incompletos
e do que vale viver com saudades do vento
E chorar o frio num tempo ardente
***

Des/amar/ des/umano

Não sei onde foi que errei...
Mas também que me importa...
Se errar é vida
E quem não erra, está morta!
Vou continuar errando, certamente
pois que me seja urgente errar
e amando, vou
indiferente, ao que me sou.
E se o céu chorar por mim
que seja de alegria insana
porque amar não é utopia
E (des)amar, é desumano.

Quero-te tanto!

* * *

Como te quero que nem sei dizer o quanto...


E enquanto te espero não sei o que fazer com o tempo?

* * *

Apenas


Apenas um beijo
sem pedir
apenas um abraço
a sorrir
apenas uma ave
a voar
apenas uma onda
a morrer
apenas um sol
para aquecer
apenas uma estação
pra viver
apenas uma pedra
a chorar
apenas uma noite
pra amar
apenas uma voz
no ar
apenas tu
em tudo..
perdido de ti
Apenas!

* * *

* * *

Hoje até nas sombras te sinto e nas vozes dos outros te oiço.

* * * 

Inquietude

Que inquietude é esta?
que me devora inerte
e se demora
Mas tudo me diz que passa
é só mais uma sombra
e vai embora
Mas tudo me diz que és meu,
e tudo me pede que não me demore.
Que inquietude é esta?
que me confunde e enlouquece
que me prende, solta e arrefece
que me esquece e promete recordar.
Que inquietude é esta?
que extinguiu o fogo do meu corpo
e o deixou na sombra de outros sóis
Onde já nem sei se adormeço
ou se sonho como todos os mortais.
Só sei que já não me reconheço
E apenas me pareço,
com alguém, que à vida emprestou,
Tudo o que tinha de seu
e a vida usou e gastou,
e hoje vagamente me lembro quem fui, ou quem sou.

Gozada a vida



Quero a vida
arrepiada
despenteada
adormecida
acordada
maquilhada
limpa
imunda
suave
funda
em sossego
desassossegada
amarga
doce
dura de roer
a seco
molhada
soalheira
ou trovejada
quero a vida
num beijo
num abraço
num amasso
numa bebedeira
numa loucura inteira
num sofá a lê-la
numa cama a amá-la
quero a vida
grávida de mim
e eu, grávida dela
e, ao pari-la
pela vida fora
vou sorrindo
vou chorando
vou gritando
vou escrevendo
vou cantando
vou dançando
e nessa caminhada eu digo à vida: puta que pariu vou gozar-te com a arte que te é devida... Vais ver?!
E pudesse eu ser eterna que me havias de temer?!
mesmo assim te digo: Nada temo
Nem as sombras que me envias me metem medo
E se um dia vou ser pó
que seja num dia de grande vendaval
para correr o mundo inteiro, à boleia
agora enquanto for carne
vou-te dar muito trabalho...
hás-de roer-me com dentes de alho
e depois de te sufocares, vais cuspir-me e dizer":Dou-te vida novamente superaste todas as provas, com a nota que vale a pena ter!"

Cai a noite


Cai a noite
E a música nasce no meu corpo
E no teu corpo
E a lua dança connosco.
Os livros adormecem na mesa de cabeceira
Os copos de champanhe cristalizaram
Na hora em que os nossos corpos colados dançaram.
Cai a noite
E a música não pára de nascer
No meu corpo
E no teu corpo
As paredes são musica
E os nossos corpos possuem um desejo vegetal
Que escorre pelas portas e janelas do nosso interior
Cai a noite
E lá fora a vida parou
Mas nós existimos...
Num desejo animal que não resiste
Em dançar a música que os nossos corpos exigem.

Uma Sereia ou um Deus?!




Vejo uma sereia a passear-se no mar
Vai ondulante, seca, insegura e lenta
Qual prostituta em desalentado silêncio nos túneis da negrura.
Escondo-me na reticência impura do meu tempo
 Mas não tenho como disfarçar ao que assisto
E com um lenço de seda pura, insisto…
Em secar as lágrimas do seu sangue.
Ruborizada a sereia ao sentir-se observada
Diz-me em tom de voz sofrida e doce  
“Eu também escuto os teus lamentos
Qual arcanjo em jejum por longos tempos,
Sempre que perdes o chão do teu céu sagrado
 E te prostituis na timidez dos teus versos Ateus
Esquecendo-te de ti e encarnando num Deus.
Num Deus que te abraça com flechas de fogo
E o coração hostilizado pelo abismo da tua memória”
E com um pedaço de céu bordado sobre mim fez história
Com nuvens espessas de paz e amor
Seca as lágrimas de todos os poetas porque eles não merecem
Sofrer tanta dor… Nem tão amarga inglória.


quinta-feira, 21 de maio de 2015

O fogo vivo da vida


Curvo-me sobre o fogo do meu corpo
fogo que não me consome
nem tampouco de mim se afasta
sem ele sinto-me pouca e gasta.
E hoje faço tudo em gestos lentos
e de mãos cruzadas.
Já não tenho pressa de nada
E nesta calma em que mergulho
passeio nas ruas paradas
e sinto o perfume das flores moribundas nas jarras
de casas com janelas trancadas
onde se vive sem fogo no corpo
e onde a vida se demora em cinzas cimentadas
e este meu fogo, teimoso, continua em mim
vivo, liquido e em brasa.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Dissertação


O fogo pega onde houver estopa.
a água passa se tiver caminho
a fome engana-se com sopa
o amor dura se tiver carinho
e
tudo passa
tudo pega
tudo tem graça
tudo avança
tudo abunda
tudo falta
mas
que nunca falte ao poeta
motivos para escrever
pois se isso lhe faltar
ele não vive... finge viver.
e
não, não há lugar para disfarce
troco uma leve mentira
por uma boa verdade
ainda que seja tarde.
e
tudo cala
tudo ri
tudo chora
e
tudo me parece
que já vi
até a madrugada
me parece, ser a que escolhi.
e
tanto posso fazer,
que já não sei se estou nua
ou se as palavras me chegam
vivas, ao fundo da minha rua
eu
gosto tanto delas...!
e elas tanto de mim...!
e
não me deixam um instante
pedem-me insistentes
escreve-me? Sim...!

esgotei-as agora
e deixo-as
assim
quando as leres:
podes poetisa-las como entenderes
Até podes brincar com ela
que elas não se vão ofender
...................................
...................................
...................................
...................................
e
do...................................
eu...................................
...................que seja breve
do muito.....................que aprendeu

*** Vida ***

***
Gosto de experimentar a vida
Amá-la
Odiá-la
Desafia-la
Prová-la
Degusta-la.
Cuspi-la
ou até
Escarrá-la… Se for preciso
Mas envolver-me sempre e intensamente no seu verdadeiro enredo...
Não a quero temer seria como se me enterrassem viva antes de falecer !

***

Amor- (im)perfeito


São intermináveis as horas em que te aguardo
E a Primavera já me virou a face
E é agora um perfil reverso
Onde procuro as cores multifacetadas
Da sua existência
Na ânsia do que não vejo.
Não tarda acordo com o Verão nos meus braços.
E temo meu amor
Que as manhãs me adormeçam prostradas
No silêncio das ruas em ardência
E me devolva em cinzas os sonhos que criei no meu peito.
Como uma mãe extremosa que a seu jeito
Protege os filhos dos acúleos das rosas.

[…?!...]




Não sei porque me condeno
Nem porque me condenas
Se o absoluto me é insignificante
E o não-ser me é imenso.
Amo a vida que nos meus olhos se demora
E odeio a morte em pleno movimento.
E mora em mim uma força leve como penas
Que me liberta o carrego e o tamanho
Ao que de mim mais me importa
E uma que me prende ao que me castiga
Mas sempre me exorta e comigo tanto briga
Não sei porque me condeno
Não sei porque me condenas…
Oh vida.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

LIVRE/MENTE


Um dia serei tão livre
Como livres são as aves
E vou ter asas
E bico
E garras
E gritos
E penas
Para escrever
E vou confundir outras aves
Quando cansada do meu voo
Eu tentar repousar
Em qualquer rochedo escabroso
Porque elas,
Vão-me ouvir
Cantar de prazer
Rir de gozo
E chorar de desgosto
Pelo Mundo indecoroso
Onde ninguém sabe amar
Sem exigir possuir, como moeda de troca
E ai...
Não há quem me possa julgar
E serei tão livre
Como livre é o ar.
Agora:
julguem à vontade
enquanto o meu corpo
aprisionado
não tem a liberdade de uma ave.

HISTÓRIAS


Uma mão que abraça...Em vão
Outra solta que amarra o punhal, e espeta o coração.
São memórias que prendem
a quem habituado está, ao que de suportar é capaz.
Dividir um amor, maior,
com amores de ocasião,mascarados de trabalho mentiras e fatos
fatos, que se vestem, nus, em cima do corpo.
E beija-se o tempo
E beija-se a boca de outras bocas
E faz-se amor... Em cima de outras sombra.
Enlouquecesse-se de tormento..
Fuma-se de novo...bebe-se uns cafés
E tudo passa...Tudo passa e na próxima viagem.
o amor volta imperfeito e farto de novo, por um troco de mentiras e promessas vãs.
Perdoem-me a mim...Que não sou dessas,
sou diferente, e não me interessa, ter assim tais parecenças...!
Que se viva de memórias e histórias turbulentas,
tanto se me dá.
Contudo; não me leiam contos de fadas. onde só existiam duendes
E que não se aponte os defeitos da outra, na presente.
A mentira tem perna curta, mas veste sempre, farda de indulta.
Uma mão que se estende, curta
no papel distante, mas presente!
Ama-se a puta... Como uma senhora!
E o paciente é Inglês.
E veste-se de indigente ... Por piedade talvez...!?
...E pronto...!
Lembranças... Memórias...Histórias!
Num painel que abraça...Mas vive solta!

terça-feira, 5 de maio de 2015

Palavras no abismo de mim.

***
Suspendo
do abismo
rompeu das cinzas
um clarão
***
Um corpo
que morre
sem palavras na boca
uma alma
que sobe
em plena ressurreição
***
Suspensa
e quieta
a voz do poeta
ficará para sempre
suspensa
nas tuas mãos
***
Num caminho que arde
do nada
Numa qualquer oração
***
Suspenso o poema
dentro de mim
Apenas suspenso
sem principio
sem fim.
***.

Onde estás?

Onde está aquele
Que me mostrou
o vulcão quieto e manso
Que circundámos
 com olhares de espanto
E me fez acreditar
com voz firme
Que todos os rios
 têm fome,
E que todas as pedras

 sabem cantar
Onde está aquele?
Que uma vez me disse:
Que todas as vidas

 têm caminhos semelhantes
E um dia sentou,

o tempo no seu colo
Adormeceu as tempestades

 sem rumo
E acordou as tardes 

demoradas e lentas
No brilho dos seus olhos
Onde está aquele?
Que das estradas

 fez tapetes em delírio
Colheu flores

 em muralhas de gente
Na minha boca

 escreveu o seu nome
E no meu corpo

 depositou a semente
Que faz nascer

 poemas órfãos de frio.

A Tua Paz























Dá-me a tua paz…
Porque a minha já me mente
Quando me diz
Ser capaz
De te esperar serenamente.
Dá-me a tua paz…
Na cidade branca
Que não acorda
E
Vamos caminhar de mãos dadas
Ou,
Simplesmente repousar o olhar
............ Tranquilos ........…
No vazio
Das paredes
................. casadas.................

Com as azul das janelas e das portas.

Um Sonho