Tenho um cais dentro do peito
um cais que se some no nevoeiro
e me deixa solitária e presa
às manhãs que não me pertencem.
Sobra-me um muro
um muro de gente indiferente
encostado ao cais
onde invento as tardes de gente que não sonha.
E os navios dormem lá longe
sem gaivotas a voar sobre si
porque ficaram aprisionadas ao meu peito
e gemem-me moribundas
dizendo que não têm forças para partir.
Tenho um cais dentro do peito
que hei-de voltar em mim a reconstruir.
cheio de gente a vibrar, de barcos espertos e gaivotas a sorrir.